A ex-diretora de Patrimônio da CBF Luísa Rosa afirma ter sido "assediada" e "humilhada" pelo presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues. A acusação da executiva consta em "notícia de infração" protocolada no domingo (7.jan.2024) junto à Comissão de Ética da Confederação Brasileira de Futebol em que pede o afastamento imediato do presidente da entidade.
Luísa diz que assediar, independentemente da "natureza do assédio", seria uma "regra geral de conduta da CBF comandada por Ednaldo". De acordo com a ex-diretora, o cartola "aparentemente" comandava um "forte esquema de espionagem para monitorar os funcionários". Ela cita também a instalação de câmeras escondidas na sede da entidade, no Rio
Na "notícia de infração", que é uma acusação formal junto à CBF, a ex-diretora afirma que os episódios de assédio sofridos durante sua passagem pela confederação, de junho de 2020 até julho de 2023, podem ser divididos em 7 partes:
Ela também diz que o diretor de Governança e Conformidade, Hélio Santos, "deixou de garantir a integridade e credibilidade da entidade e seus funcionários, pecando no zelo pela segurança e governança da CBF ao permitir e/ou não fiscalizar, de modo satisfatório, os assédios ocorridos na CBF sob o comando de Ednaldo Rodrigues".
Por fim, a "notícia de infração" pede que:
Ednaldo Rodrigues e Hélio Santos sejam suspensos por ao menos 90 dias;
uma investigação seja instaurada;
seja garantido o pleno exercício do contraditório aos dirigentes;
concluída a investigação, seja elaborado um relatório a ser encaminhado à Câmara de Julgamento e que as "sanções cabíveis" sejam aplicadas.
O Poder360 entrou em contato com a CBF para perguntar se a entidade gostaria de se manifestar a respeito da "notícia de infração" protocolada no domingo e do processo que a ex-diretora move na Justiça Trabalhista do Rio em que pede indenização de R$ 1,8 milhão. Não houve uma resposta até a publicação deste texto, mas o espaço está aberto e será atualizado caso uma posição seja enviada.
A CBF vive um ambiente convulsionado há alguns anos.
O caso de Ednaldo Rodrigues é o mais recente. O atual presidente da entidade havia sido fastado do cargo em dezembro de 2023 por determinação do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Os desembargadores consideraram que houve irregularidade no processo de escolha do dirigente. Por essa razão, determinaram a anulação da eleição de 2022 vencida por Ednaldo. O presidente do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), José Perdiz, assumiu a função por 30 dias e ficou comissionado para conduzir uma nova disputa.
Antes de ser afastado pelo TJ fluminense, Ednaldo já sofria, havia meses, uma série de pressões internas na CBF que se intensificaram com o mau desempenho da seleção brasileira de futebol nas eliminatórias para a Copa do Mundo (a equipe está apenas em 6º lugar na competição). Acusações de uso indevido dos recursos da confederação vieram a público, impulsionadas por opositores de Ednaldo e embasadas em documentos vazados aos quais o Poder360 teve acesso.
Depois de várias idas e vindas, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, devolveu Ednaldo ao cargo de presidente da CBF em 4 de janeiro de 2024. O magistrado atendeu a um pedido que havia sido apresentado ao Supremo pelo PC do B –partido responsável por indicar o secretário-geral da instituição. Pesou na decisão de Gilmar Mendes o temor de que entidades internacionais de esportes –com a CBF acéfala– impedissem atletas brasileiros de ser inscritos e de participar de alguns eventos.
Antes desse episódio da remoção e retorno de Ednaldo à CBF, a entidade já havia passado por uma crise interna em 2021, um ano antes da promoção de Luísa Rosa, quando o então presidente da confederação, Rogério Caboclo, teve de deixar o cargo por causa de acusações de assédio moral e sexual. Com a queda de Caboclo, a cadeira de presidente acabou ficando justamente com Ednaldo.
O caso de assédio na CBF não é isolado. O futebol mundial passa por deterioração de imagem, com o público em geral entendendo que as associações do esporte são ambientes tóxicos para mulheres.
O ex-presidente da Federação Espanhola de Futebol Luis Rubiales caiu depois de ter dado um "selinho" (beijo) numa jogadora da equipe espanhola que havia vencido a Copa do Mundo de 2023.
Nesse sentido, a entrada de Luísa Rosa num cargo de direção na CBF visava a debelar a impressão de ambiente tóxico no futebol para as mulheres. No anúncio da nomeação de Luísa, o site da CBF destacou o fato de ela ser mulher: "Será a 1ª diretora da história da Confederação Brasileira de Futebol".
A queda de Rogério Caboclo da CBF em 2021 se deu, sobretudo, por conta da pressão de patrocinadores da confederação, que não desejavam ter suas imagens relacionada ao escândalo. Agora, com esse novo episódio, não está claro como as empresas que apoia a entidade vão reagir.
Fonte: Poder 360